Monitoramento de tremores de terra coloca Unimontes entre referências do país

O Núcleo de Estudos Sismológicos da Universidade Estadual de Montes Claros (NES/Unimontes) passa a disponibilizar, no site da instituição, os boletins mensais sobre os tremores naturais e artificiais registrados pelas estações sismográficas que a instituição coordena no município. Os dados referentes ao Norte de Minas no período de 2014 a 2021, e ainda, de janeiro e fevereiro de 2022, já podem ser acessados na seção “Projetos e Serviços” do portal eletrônico da Unimontes.

Os relatórios oferecem tabelas e mapas explicativos sobre os abalos, com datas, localizações e magnitudes, e com informações também sobre os tremores artificiais, que são gerados pelas detonações de jazidas e pedreiras.

Vinculado ao Centro de Estudos de Convivência com o Semiarido (Cecs) e ao Departamento de Geociências, o NES/Unimontes atua na coleta de dados, monitoramento, trabalhos de campo e produção de estudos e pesquisas sobre os tremores naturais e artificiais na área de abrangência da Universidade. O Núcleo funciona no anexo do prédio 6 (Projetos Especiais), no campus-sede, com atendimento presencial de 8 às 12h e de 13h30 às 17h30.

Para o professor Manoel Reinaldo Leite, coordenador do CECS/Unimontes, além da inserção da Universidade entre as referências científicas do país sobre o tema, o NES amplia ainda mais as possibilidades de estudos sobre a Sismologia para todo o Norte de Minas.

“O monitoramento não se resume somente em registrar o histórico dos tremores em Montes Claros. Há um campo de estudos bem amplo a partir de cada apuração, como, por exemplo, a possibilidade de analisar se há um comportamento de migração dos sismos, o que identificaria mais adiante o possível avanço da falha geológica”, analisa o pesquisador sobre o caso de Montes Claros.

Ao mesmo tempo, o coordenador do CECS destaca nominalmente a importância dos precursores do Departamento de Geociências da Unimontes nos estudos da Sismologia, e que contribuíram para que a instituição se colocasse como parte da Rede Sismográfica Brasileira: professores Anete Marília Pereira, Maria Ivete Soares de Almeida e Expedito José Ferreira. Cita, ainda, os colaboradores das instituições parceiras: professores Lucas Vieira Barros e George Sand, ambos da UnB, e Marcelo de Assumpção, do IAG/USP.

Ranking

Montes Claros, com 40 abalos nesse período 2014-2022, aparece como o município com o maior número de ocorrências, seguido de perto por Jaíba (38). Outras três localidades também chamam a atenção pela maior incidência de abalos naturais: Itacarambi (12), Januária (7) e Curral de Dentro (6).

Manoel Reinaldo reforça que os estudos sobre Sismologia no Norte de Minas não se resumem a estes números isolados. Ele sugere a possibilidade de se investir em mais equipamentos, em capacitações e intercâmbios para novos desdobramentos práticos – como em políticas públicas – e científicos – com a ampliação do NES/Unimontes. “O Núcleo de Estudos Sismológicos da Unimontes é uma base permanente para os estudos, com reais possibilidades de maior incremento”, acrescenta.

Como exemplo, Maykon Fredson reforça uma necessidade: de pelo menos mais um sismógrafo coordenado pela própria Unimontes. Com três aparelhos, a partir do cruzamento e triangulação de dados sísmicos, a Universidade teria capacidade de calcular a magnitude correta dos tremores, identificar o epicentro de forma precisa e determinar alguns parâmetros da falha geológica.

A incidência maior de tremores nas regiões de Jaíba e de Curral de Dentro também fomentaria mais estudos específicos, até mesmo para se apurar se há correlação entre os abalos registrados em Montes Claros e os destas áreas. “Há particularidades parecidas em termos de relevo e hidrografia, mas ainda é muito cedo para associar estes pontos entre si. Demandaria estudos mais precisos, trabalhos in loco com uma equipe maior e, claro, mais equipamentos, para se chegar a uma causa comum dos abalos nestas outras regiões”, finaliza Manoel.

Outra vertente para mais estudos junto ao NES/Unimontes estaria na criação de um grupo interinstitucional para a geração de dados e a identificação das zonas de risco em Montes Claros, cidade que tem o maior número de registros. “Por mais que os abalos sejam pequenos, as fragilidades serão atestadas na estrutura precária de construções fora dos padrões de segurança, o que provocaria um trabalho do poder público mais intenso para intervenções, diante da probabilidade de riscos sísmicos”, finaliza Manoel.

Comments

comments

rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

%d blogueiros gostam disto: