Coordenadora do CAPS Infantil ministra palestra sobre a valorização da vida para militares da 4ª Cia. Independente

No Brasil, o número de policiais que tira a própria vida é maior que o dos que morrem em serviço. Segundo o relatório anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em outubro de 2020, só em 2019, 65 policiais militares e 26 civis cometeram suicídio. Naquele mesmo ano, o número de PMs mortos em serviço foi de 56 e o de policiais civis, 16. O número de policiais mortos fora de serviço foram 101.

Os números podem ser ainda maiores por falta de levantamento de dados pelo poder público. Entre esses fatores figuram o próprio tabu, a existência de preconceito interno em relação ao policial em sofrimento mental e até a tentativa de proteger familiares da vítima diante da possibilidade de se perder o direito ao seguro de vida caso a causa da morte seja revelada. A cultura das instituições militares também é apontada como causa da falta de levantamento de dados.

Fugindo à regra da maioria dos órgãos de segurança pública do país, a 4ª Cia. Independente de Polícia Militar convidou a psicóloga e coordenadora do CAPS Infantil de Frutal, Andreza Morais Alves de Souza, para falar justamente sobre esse tabu social responsável por ceifar a vida cerca de 800 mil pessoas todos os anos.

Com o tema: “Sobre viver – aspectos que permeiam a saúde mental de policiais militares”, a palestra teve o objetivo de trazer para o centro do debate questões importantes referentes tanto a saúde mental como também sobre a questão do autoextermínio.

De acordo com Andreza o diálogo é a melhor maneira para tentar evitar que pessoas atentem contra a própria vida. “A ideação suicida nem sempre será fácil de se perceber, mas é importante que as pessoas fiquem atentas a mudanças de comportamento. Caso você perceba que a pessoa está deprimida, que ela já não está demostrando interesse por atividades que antes ela gostava, é fundamental procurar ajuda de um especialista seja no CAPS ou em uma UBS”.

A coordenadora do CAPS Infantil salienta que o índice de autoextermínio entre os policiais militares é considerado alto. “Isso se deve pelo fato de ser uma profissão que vive em constante situação de risco, tem uma questão hierárquica rígida, esses são apenas alguns dos fatores que causam uma pré-disposição para o surgimento de doenças ocupacionais de ordem emocional como estresse, burnout e a vontade colocar fim a própria vida”.

A psicóloga ressalta que falar sobre suicídio ainda é um grande tabu social. “As pessoas não tinham o hábito de falar sobre os próprios sentimentos, mas isso vem mudando com as novas gerações. Demonstrar sentimento, principalmente, entre os homens era tido como sinônimo de fraqueza. Eu sei é difícil olhar e lidar com as nossas próprias dores, com as nossas próprias limitações, é mais cômodo externar uma opinião sobre o outro, do que expor o nosso próprio sentimento”.

Andreza destaca que uma parcela significativa da população brasileira ainda não dá importância necessária para questões relativas à saúde mental. “Muitas pessoas não compreendem porque alguém como uma vida financeira estável e aparentemente feliz pode desenvolver depressão. Elas esquecem que depressão é uma doença e precisa ser encarada como uma patologia de ordem emocional e psicológica, e não como uma frescura ou algo sem importância”, finaliza a psicóloga.

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

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