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Diga “NÃO” à demolição do ISPA – por Caio Heitor Duarte

Quando o jornalista Carlos de Lima fez o convite para que eu me tornasse articulista do 4º Poder, concedeu a mim o direito de escrever o que quiser e da forma que quiser. Além de acreditar no seu projeto que estava se iniciando, vi ali a oportunidade de fazer jornalismo sem rabo preso. Diante disso, pela primeira vez, vou usar da “prerrogativa” que o Carlinhos me deu para discordar do seu editorial da semana passada.

Sou rigorosamente contra a demolição do prédio do ISPA. Frutal tem uma péssima e perversa mania de rasgar a sua história. O ISPA foi forjado na luta do povo dessa terra e construído por meio de doações de pessoas que se sensibilizaram com a ideia de que já estava na hora de Frutal possuir uma escola de ensino médio. Não se trata apenas de mais um prédio na cidade. Se assim o fosse, eu não estaria aqui defendendo seu tombamento. Trata-se de um pedaço da nossa história que não deve ser preservado apenas nas fotografias.
A demolição do “Casarão do Marcondes”, por exemplo, foi um crime contra a cidade. Ali foi construído um posto de gasolina que poderia ter sido instalado em qualquer outro terreno, menos ali. O Coreto deveria ter sido preservado, assim como deve ser preservado o prédio da antiga Cadeia Pública, ambas as obras construídas na década de 1920 pelo então prefeito Raul de Paula e Silva. Outra obra do então prefeito – essa sim restaurada e bem utilizada – foi o prédio da antiga prefeitura que deu espaço à Secretaria Municipal de Cultura e ao Museu Municipal. Devo aqui reconhecer os méritos da ex-prefeita Ciça e da ex-secretária Zulmira da Mata na execução dessa obra.
Mas o que me chama a atenção é a (não)posição do atual prefeito em relação ao tema. Tenho acompanhado de perto as discussões sobre a demolição ou não do ISPA e, em momento algum, vi o prefeito Mauri se manifestar, quer seja por meio de entrevista, quer seja por meio de nota oficial da Prefeitura. É seu dever dizer o que pensa. Se for a favor da demolição, que diga. Se for contra, que exponha seus motivos. Disse em minha penúltima coluna e repito aqui: o que se espera é coragem. Não se pode permitir que o prefeito se omita de um tema tão relevante para os destinos da cidade.
Se isso não bastasse, há mais um agravante. O prefeito Mauri criou o COPAC – Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural de Frutal – que em reunião aprovou o tombamento do prédio do ISPA. Mas Mauri não só não cumpriu o que foi deliberado em votação pelo Conselho que ele mesmo criou, como demitiu o presidente do COPAC Ionei Dutra. Ora, democracia não se cultiva em cativeiro, prefeito. Democracia se cultiva no embate de ideias e no respeito às opiniões divergentes.
Eu que há duas semanas cobrei uma postura mais incisiva do Ministério Público em favor dos interesses de Frutal, quero aqui – de público – reconhecer o brilhante papel que o promotor Renato Teixeira tem desenvolvido na luta pela não demolição do ISPA. Como bem colocado pelo promotor na ação que envolve o tema, o terreno em que está localizado o ISPA ocupa todo o quarteirão e não é necessária sua demolição para que ali se construa os prédios planejados. Quem paga a conta da reforma? Bem, temos várias opções de convênios com o Governo Federal e Estadual – ou parceiras com a iniciativa privada – que poderia dar utilidade ao prédio, construindo ali uma creche ou uma escola. Basta vontade política, já que o prefeito alega não ter dinheiro para realizar a obra.
Portanto, não podemos instituir o “Avança Frutal”. Avançar em cima de que? Da nossa história? Não. O progresso, desejado e necessário, não pode vir a qualquer preço e a qualquer custo. Só pode sonhar verdadeiramente com seu futuro, aquele que reconhece e respeita o seu passado.

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

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