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O nascimento do ISPA na arte de uma luta

Querem sabe o porquê que o ISPA não merece ser demolido? Confira um pouco da história desse prédio escrito pelos alunos Saulo Silva e Nélio Barbosa do Curso de Comunicação Social da UEMG em Frutal. Desde já agradeço a eles por cederem o texto:

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Agarrada às barranqueiras do Rio Grande, Frutal estava desejosa de progresso. O mundo contemplava a modernidade e os avanços tecnológicos. A magia do cinema, a força do rádio e as possibilidades da televisão afloravam o desejo pelo saber e apontavam novos caminhos, novas profissões, novos campos de trabalho.

A segunda metade da década de 40, em um mundo pós-guerra, prometia avanços na ciência e a cidade não possuía sequer uma escola de ensino médio. Para as famílias mais abastadas, havia os internatos e boas escolas em cidades maiores, onde seus filhos poderiam concluir os estudos. A classe mais pobre, obviamente, se mobilizou, sensibilizando primeiramente a imprensa da época, o extinto Jornal A Tribuna de Frutal.

Por meio do jornal, de veiculação quinzenal, o movimento começava ganhar força no meio político e intelectual da cidade. Em 22 de setembrode 1946, foi publicada a seguinte nota: “Você que se diz amar Frutal e se evoca até o direito de influir em seus destinos. Que fez você até hoje, por doar a sua terra um ginásio que iria aproveitar, antes de mais ninguém, aos seus próprios filhos? Trabalhar efetivamente pela fundação aqui de um estabelecimento  de ensino é dever de todo frutalense”.

Um trabalho demorado, porém, persistente fez com que no dia 06 de abril de 1952 fosse criada a empresa Ginásio Frutal S/A, fruto de doações em dinheiro por parte de um grupo de 20 cidadãos frutalenses junto à prefeitura que doou o terreno. Apesar de todo esforço, o Ginásio Frutal começou suas atividades apenas três anos depois com a quinta e sexta série do ensino fundamental.

Por volta de 1960, o Ginásio de Frutal foi parar nas mãos das Irmãs Salvatorianas, que nomearam o local, como Colégio São José. A partir, de 1970, o Colégio começou a ser administrado pela Igreja Católica, que o denominou ISPA (Instituto São Paulo Apóstolo).

A maioria dos primeiros professores e fundadores já morreu ou residem em outra cidade. Mas, o professor de geografia e inglês e um dos que participaram da fundação, Cássio Lima, ainda acredita que é necessário que o velho e o novo estabeleçam um equilíbrio. “Uma escola construída da forma como foi o Ginásio Frutal carrega em si um significado de conquista social muito importante para a história de nossa cidade. A caminhada até a escola me lembrava da forma aristotélica do ensinamento, porque andávamos a pé junto com os alunos”, destacou o professor. “Muitos dos professores não eram profissionais da educação, e sim, profissionais liberais. Por incrível que pareça, a maioria dava aula voluntariamente como alguns personagens históricos de Frutal, por exemplo, Maestro Josino de Oliveira e Dr. Paulo Musa”, relembrou o professor Cássio.

Maria José Lacerda, aluna da primeira turma do Ginásio Frutal, lembra das experiências que eram feitas nas aulas de química. “Não tínhamos o luxo do tubo de ensaio, que era substituído por um vidro de penicilina devido à resistência do vidro. O fogo era aceso em latas de queratina e utilizávamos prendedores de roupa para manusear o vidro quente”, contou Maria José. “Essas deficiências não nos incomodava, uma vez que, o conhecimento era transmitido”, arrematou.

A professora Dilza Miziara, havia acabado de se casar na cidade de Piracicaba, no interior paulista, no ano de 1953. O movimento pelo Ginásio já havia sido realizado, porém, os esforços para a concretização do sonho estavam apenas começando. “Formamos excelentes alunos que se nivelavam aos das melhores escolas da região. Eu e meu marido, Vinícius Miziara, levamos, junto com outros professores, esses alunos às melhores universidades”, explicou Dilza. “Ninguém pagava por aprender. Tínhamos profissionais recém formados retornando à terra natal com sonhos de fazer desse lugar, uma cidade melhor”, declarou.

Ginásio Frutal, Colégio São, Instituto São Paulo Apóstolo… Não importa quantas identidades deram a esta instituição que carrega em si um valor histórico grandioso. A teimosia em se manter vivo fez com que o ISPA chegasse aos nossos dias. Símbolo de uma luta social na década de 50, que trouxe a primeira escola de ensino médio de Frutal, hoje se encontra frente a dois valores antagônicos: o valor social e o valor financeiro. De um lado, o capital expandindo suas forças. De outro, um patrimônio histórico, inofensivo, mas, imponente que tenta sobreviver.

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Caso não tenha acompanhado o início da campanha para preservar o ISPA, sugiro que leia os seguintes links na sequência:

https://www.rodrigoportari.com.br/?p=3268

https://www.rodrigoportari.com.br/?p=3273

https://www.rodrigoportari.com.br/?p=3277

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A história fala por si só. E justifica todos os motivos para que a comunidade trabalhe unida em favor da preservação de uma parte de sua história!

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

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