Delação, contradição, negociação de cargos: saiba detalhes da Operação Dejá Vu

Conforme antecipamos ontem, a Polícia Civil de Frutal concluiu o inquérito da Operação Dejá Vu, que resultou na prisão de sete vereadores da cidade. Durante a coletiva alguns detalhes da operação foram divulgados pelos delegados Fábio Ruz Borges e Bruno Gustavo Salmen, responsáveis pelo caso. Uma das revelações feitas pelos delegados é de que, nas negociações de votos para a presidência da Câmara havia pedidos de “proteção jurídica” contra outro processo que já corre no Judiciário envolvendo a atual Mesa Diretora. “Alguns dos envolvidos queriam proteção jurídica, que o advogado da Câmara pudesse agir em nome deles e que, caso algum processo de cassação chegasse ao Legislativo, que não fosse colocado em votação em tempo hábil”, explicou o delegado Fábio Borges.

Outro detalhe revelado nas investigações é que os vereadores teriam se unido no que eles mesmo denominariam “Grupo dos 10” e que, juntos, entre eles, existia a negociação de votos. Nesse sentido acabou incorrendo os crimes de corrupção ativa e passiva. “Iniciamos as investigações de um outro inquérito policial onde já foi oferecida a denúncia, de que haveria essa comercialização, essa forma não democrática de obter votos, através de dinheiro, de vantagens indevidas, até mesmo de cargos a serem oferecidas. Nesse grupo dos 10 existia um verdadeiro leilão dos votos e é exatamente aí que a Polícia Civil acabou incidindo nas investigações”.

Delação

Dos sete detidos, um deles se propôs a colaborar com as investigações, passou informações sobre as negociações e ainda teria entregue R$2.250 em dinheiro que teria sido recebido em troca de um voto. Uma filmagem do sistema de monitoramento bancário revelou o momento em que o vereador teria recebido R$10 mil de outro no interior da agência. O nome do vereador que fez a delação premiada foi mantido em sigilo pelo delegado. “Inclusive, em uma das interceptações, dá para ouvir ao fundo o vereador que recebeu o dinheiro fazendo a contagem das cédulas e falando assim: ó tá aqui o seu valor. Ele acabou passando três mil reais a outro vereador que intermediou a aproximação dele. Temos isso tudo em gravação, em conversa”.

Contradição

Uma das alegações apresentadas nos depoimentos é de que o dinheiro passado dentro de uma agência bancária seria um empréstimo de um vereador para o outro. Porém, houve uma contradição entre as versões: um dos envolvidos disse que pegou o dinheiro emprestado porque o colega teria recebido o 13º salário e o emprestou. A pessoa que emprestou o dinheiro alegou ter pegado o dinheiro emprestado com um terceiro e repassado ao seu colega sem qualquer tipo de juro ou cobrança extra.

Em uma das escutas um vereador diz par o outro que “os exame dele” estariam pronto mas, na verdade, era dinheiro, não exames.

Negociação de cargos

O delegado Bruno Salmen ainda observou que além da compra de votos envolvendo dinheiro, havia também pedidos de indicação de amigos para ocupar cargos no Legislativo frutalense: “Outro tipo de vantagem solicitada foi a colocação de amigos na função de cargos comissionados. Esse é um papel que cabe ao presidente, de apontar os nomeados, e havia solicitação de que amigos fossem colocados ali para ocupar esses cargos, muitas vezes preterindo pessoas capacitadas, deixando o mérito de lado para falar mais alto o interesse pessoal”, afirmou.

Próximos passos

Com a conclusão do inquérito, as investigações foram remetidas para a Justiça de Frutal. Isso não significa que as investigações param por aí, já que o Ministério Público pode requisitar novas diligências para a ação penal. “O trabalho da PC se encerra agora, mas esperamos que a população faça a sua parte, cobrando dos novos vereadores uma análise de eventual crime de responsabilidade praticada pelos detidos. Nesse ponto é importante o papel do eleitor, cobrando instauração de processo para análise de processo desses vereadores. Sabemos da força do povo e da sociedade, em especial, considerando o atual momento em que passa a sociedade no que tange a tantas investigações de crimes praticados pela alta cúpula da política nacional”, finalizou.

 

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

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