A imagem e o “tapa na cara” da sociedade

20150312_092828Vou iniciar a postagem parabenizando a minha aluna Paola Silveira, que também é repórter do Jornal Pontal e da Rádio 97FM. Ela, que está no sétimo período de Comunicação e é discente da disciplina de Fotojornalismo, da qual sou docente desde a primeira turma.

Durante as aulas, procuramos debater o fotojornalismo, ver exemplos e, sobretudo, passar orientações sobre as oportunidades únicas que temos de registrar um flagrante. Flagrantes esses que carregam mais do que um simples registro do fato, mas carregam mensagens e, acima de tudo, ajudam o leitor a refletir e, quem sabe, transformar alguma coisa na sociedade.

É o caso dessa fotografia publicada (com justiça) na primeira página do Jornal Pontal do dia 5 de março. A imagem, registrada por Paola, é, sem dúvida nenhuma, um alerta muito, mas muito grande para a sociedade brasileira. Na ocasião, três pessoas detidas sob suspeita de tráfico de drogas. Esse é o tipo de crime mais comum e que, infelizmente, mais gera outros tipos de criminalidade, como furtos, roubos e, quiçá, sequestros, estupros e homicídios. Infelizmente, o tráfico é um mal que deveria ser combatido com mais veemência, mas não apenas na esfera judicial, como também com políticas públicas eficientes para tratamento de viciados, orientação e, sobretudo, prevenção ao uso de entorpecentes.

Porém, estamos longe de alcançar o “ideal” para essa situação. E é aí que entra a necessidade do trabalho ostensivo e repressivo, muito bem executado pela Polícia Militar de Frutal. (Abro esse parênteses para elogiar todas as equipes de viatura, GEP-Mor e comando da PM pelo efetivo trabalho no combate ao tráfico em Frutal. É digno sim, de elogio). Mas, do que adianta esse belo trabalho quando temos um sistema de leis e penitenciário que não ajuda a sociedade? Não raro, suspeitos de tráfico estão nas ruas em poucos dias graças a inúmeras brechas na lei que, pasmem, não especifica quantidade que se caracterize uso ou tráfico de drogas. É bem possível uma pessoa ser presa com 10 quilos de maconha ou cocaína e alegar que é usuário e que é para seu uso pessoal. Não é só possível como já vi isso acontecer em outros casos.

A foto de Paola, ao mostrar a “preocupação” dos suspeitos em estar detido, me pegou em cheio. Como diria Roland Barthes, a pose dos suspeitos me “pungiu”, me puxou para dentro da foto e me “agrediu”. Me agrediu por saber exatamente das falhas e brechas da lei. Por saber que, infelizmente, meus filhos ainda podem ser vítimas do tráfico. Não que serão usuários (pelo menos, tentarei educá-los para que não), mas podem sim serem assaltados, furtados, agredidos ou qualquer outro tipo de crime associado ao uso de entorpecente.

Minha aluna (e digo isso com orgulho) tem aprendido bem a lição. E cumprido bem o seu papel de alertar a sociedade sobre tudo isso que estou dizendo acima. Para a PM que fez o trabalho, nosso reconhecimento. Para as leis e sistema judiciário brasileiro, nossa lástima. E, para Paola e para o editor do Pontal, João Cerino (quem fez a bela escolha da imagem), apenas aplausos.

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

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