A história da Rádio em Frutal – Parte II

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Acima: convite de inauguração da Rádio Frutal AM. Abaixo: solenidade de inauguração no Cine Canaã

Confira a segunda parte da história da implantação da rádio em Frutal, compilação de pesquisa da jornalista Zilma de Oliveira orientada por mim, Rodrigo Portari. Boa leitura!

A Inauguração

Frutal viveu no dia 21 de abril de 1963, feriado nacional, um momento inédito que ficou registrado não só em fotos, mas na lembrança de dezenas de frutalenses que compareceram à cerimônia de inauguração da emissora que foi ao ar nesse dia com o prefixo ZYL-235, Sociedade Rádio Frutal. A cidade estava em festa, além dos tradicionais discursos de autoridades ilustres, o momento foi marcado por desfiles e apresentação de bandas orquestrais.O convite da cerimônia (foto) foi guardado por Buzolo com muito carinho e até hoje está exposto em um quadro fixado na parede do escritório pessoal do comunicador. Nele, os detalhes da solenidade que iniciou as 7h com a Missa em Ação de Graças, na Igreja Matriz. Às 8h aconteceu a benção dos estúdios e 10 minutos depois foram ligados oficialmente os aparelhos. O hasteamento do Pavilhão Nacional foi feito por José Humberto Rodrigues da Cunha. As 8h30 houve a sessão solene no Cine Canaã. Toda a cerimônia foi transmitida através do prefixo da emissora recém inaugurada ZYV 77, Sociedade Rádio Frutal Ltda.

Em se tratando de comunicação que pudesse chegar aos ouvintes, a propagação das ondas sonoras já alcançavam longas distâncias e enquanto havia condições técnicas já alcançavam o maior número de lares possíveis. As fazendas eram, naquela época, as responsáveis por grande parte da audiência da Sociedade Rádio Frutal. Com o propósito de aproximar as pessoas, Buzolo criou um dos programas mais tradicionais e que se tornou marca na emissora: O programa “Às suas ordens”. Era uma espécie de porta voz entre o rádio e o ouvinte, uma forma de mandar recado às pessoas que tinham dificuldades em comunicar-se por meio da telefonia que tinha um serviço bastante precário à época.

O primeiro endereço da Sociedade Rádio Frutal foi o segundo piso do prédio onde até hoje funciona o Bar Society, na Avenida Coronel Delfino Nunes, no centro, local em que a emissora permaneceu por cerca de 10 anos. De lá, a rádio AM mudou para a rua Cônego Marinho, no Calçadão, onde permaneceu também por vários anos.

Buzollo na inauguração das piscinas do Alvorada Praia Clube
Buzollo na inauguração das piscinas do Alvorada Praia Clube

Toda a programação era datilografada, havia um programador que operava a técnica de áudio. Outra atração que durou certo tempo e que atraiu muito a atenção do público foram os programas de auditório, além de vários outros criados como forma de interagir com o ouvinte frutalense e da região. Os noticiários eram datilografados e mandados junto com a programação para a Polícia Federal de Uberaba, uma espécie de controle da informação em época de ditadura imposta pelo governo.

Um dos momentos considerados mais importantes pelo criador Buzolo foram as narrações esportivas que fizeram da Sociedade Rádio Frutal uma referência, com transmissões de partidas até internacionais entre Brasil e Thecolosváquia. Mas o forte da emissora era a programação musical, selecionada a rigor e sob a análise criteriosa de Buzolo, que por muito tempo, fez questão de acompanhar de perto essa escolha, sugerindo, opinando e criticando quando necessário. O funcionamento era das 6h às 22h.

Buzolo também tinha o seu espaço na rádio AM ao comandar um programa de jornalismo, que ia ao ar diariamente ás 11h30. No formato de meia hora, ele levava ao ar, com sua voz grave, os principais acontecimentos em níveis local, regional e nacional. O programa tinha um nome polêmico, criado pelo próprio Buzolo, que se chamava “Com a boca no trombone”, um instrumento de cobrança e de críticas direcionados especialmente à política frutalense.

Como naquele tempo se exigia conhecimentos geral e lingüístico, a maioria dos locutores que passou pela Sociedade Rádio Frutal, teve além de um espaço na emissora, a chance de aprender por meio de cursos ministrador pelo “professor” Buzolo. O comunicador ensinava os profissionais da comunicação a falar corretamente usando um português impecável, e ainda, como utilizar o microfone, adotando um comportamento vocal diferente, que atendesse aos padrões exigidos pelo fundador, mas que foram aprovados pelo público ouvinte.

Fazer rádio para Buzolo foi o caminho para ser o que denominou de “herói humilde, um homem modesto, ou então, um homem servidor”. O fundador não tinha dúvidas de que o rádio tem um poder imenso sobre a vida das pessoas quando dirigido para um determinado fim. O rádio faz rir, chorar, encanta de uma maneira geral. Assim pensava Buzolo, para quem, esse meio de comunicação jamais irá acabar. Afinal, como ele mesmo questiona:

 Como é que você acaba com a eletricidade? O que carrega a noticia mais depressa do que a onda sonora? Ela chega a toda casa sem pedir licença. Convive também com mal estar de determinadas famílias que se preocupam com ela. É uma ferramenta perfeita, mas para obras bonitas depende de artistas competentes. É fonte mesmo de ensinamento, ensina quem ouve e ensina quem faz. (BUZOLO, José 2009)

Quando perguntado sobre o que o motivou a deixar o rádio, José Buzolo ficou pensativo por alguns segundos e, como de hábito, parafraseou algumas citações que revelam o seu profundo sentimento de gratidão e de dever cumprido ao longo de 32 anos dedicados à comunicação frutalense.

“Primeiro lugar, o homem não vive sem pão, eu queria comer pão. Parei porque achava que não conseguia mais do que podia. Eu não tive tristeza. Fiquei satisfeito com o que fiz e agradeci antes de parar porque servi da melhor maneira que pude, continuando um homem livre, não devendo agradecer a favores. Ofereci enquanto tive, sinto que Frutal melhorou. Chegou a minha vez de parar. Tiau! Um dia nos veremos por aí!”.

O desejo de fazer comunicação não teria tamanho respaldo não fosse o apoio incondicional por parte daquela que além de companheira fiel ao longo de décadas de união, se tornou o braço direito do comunicador. Os momentos difíceis enfrentados principalmente no início da implantação da Sociedade Rádio Frutal, foram compartilhados com a esposa Jacinta Buzolo, mineira de Veríssimo, hoje com 88 anos. Ela reconhece que os tempos foram de sacrifício, mas se orgulha de ter estado ao lado do homem, que para ela, é o verdadeiro exemplo de amor pela comunicação radiofônica.

De acordo com Jacinta, fundar uma emissora de rádio foi uma vontade própria do Buzolo que percebeu a necessidade de Frutal progredir, entendendo ele que a comunicação seria um dos caminhos.  Com orgulho, ela se lembra do dia solene da inauguração da rádio que foi abençoada pelo Frei capuchinho Estanislau.

Diante da precária comunicação daquela época, o rádio chegou num instante em que a comunidade carecia de mais proximidade e é por isso, que segundo Jacinta, o esposo criou um dos programas de maior audiência da emissora e que permaneceu por vários anos na preferência dos ouvintes. Comandado pelo apresentador e repórter policial, o advogado Osmar Silva, o programa diário “Às suas ordens”, teve um papel fundamental: foi o interlocutor e ao mesmo tempo, a voz do ouvinte, principalmente das pessoas que moravam nas fazendas.

Jacinta culpa a praticidade do aparelho como fator responsável por tamanha aceitação. A programação, ela admite, mudou muito com o passar dos anos, devido a uma necessidade natural de atualização. Em se tratando de exemplo e lição de vida, a esposa do fundador da Sociedade Rádio Frutal afirma que Buzolo fez tudo que podia na medida do possível e que condizia com a realidade daquela época. “O que ele idealizou deve ficar marcado para sempre na memória da comunicação e seria importante que as novas gerações, seja de comunicadores ou não, tivessem acesso a esse feito”.

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

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