Opinião: Crise de credibilidade

Rodrigo UnisebPesquisa do Datafolha publicada nessa semana demonstra que 28% das pessoas não confiam na imprensa. O número de “incrédulos” é bem maior do que os outros totais, seja dos que confiam pouco ou confiam alguma coisa no que se vê pela mídia. Vive-se, sem dúvida nenhuma, um período de crise de credibilidade, em especial, no que diz respeitos aos órgãos de comunicação de alcance nacional.

Entender o que tem levado a essa crise não é tarefa muito difícil, mas também não é tão simples como se parece. Se, por um lado, há aqueles que gritam que a “mídia é golpista” ou que a “crise financeira é uma invenção da mídia”, por outro, os jornais, rádios e emissoras de TV também colaboraram para que suas credibilidades sofressem abalos.

Não são raros os casos de conteúdos divulgados parcialmente ou, pelo menos, com o enquadramento que interessa ao grupo ou organização que controla determinada mídia. Vários exemplos poderiam ser citados por aqui, mas prefiro não entrar em rota de colisão com editores, jornalistas e diretores de meios de comunicação que arrotarão palavras como “rigor na apuração”, “objetividade” ou “imparcialidade”.

Há muito a população tem percebido que imparcialidade e objetividade são mitos no jornalismo. Vários autores acadêmicos já trataram do assunto e a cada nova pesquisa de análise de discurso ou de conteúdo, demonstra-se a inevitabilidade de tomada de posição do jornalismo. Elcias Lustosa já apontava isso na década de 1990. Vários outros autores, como Maurice Mouillaud, Louis Queré ou Patrick Charadeau – para ficar nos franceses – ou Jorge Pedro Sousa – lá em Portugal – discutem essa questão calcados em teorias como “Newsmaking”, “Gatekeeper” ou “Agenda-Setting”.

Talvez a grande imprensa não se deu conta ainda que as redes sociais, a Internet e a proliferação de blogs e portais de informação alternativos têm contribuído para contradizer ou, pelo menos, elucidar os pontos das notícias que os editores gostam de deixar no vácuo por não ser do interesse do grupo organizacional que representa (a Teoria Organizacional discute muito bem esse jogo de interesse). A facilidade com que se acessa a rede e a conteúdos alternativos pode estar colaborando para que a mídia seja vista como algo falho e representante apenas de interesses econômicos. Some-se a isso a cultura da conexão (Jenkins), que leva as pessoas a exporem seus pontos de vista na rede e compartilhar com seus amigos que, por sua vez, compartilharão com outros amigos; e também a figura do gatewatcher, aqueles que leem conteúdos na rede e resolvem encaminhar para seus conhecidos, filtrando o que considera de interesse daquilo que pode ser olhado com desconfiança.

Não há dúvidas da necessidade da mídia e do jornalismo, em especial, repensar o seu posicionamento e sua forma de atuação perante a seu público. Se os olhos continuarem vendados e os ouvidos tapados para os dados que são apresentados, a crise de credibilidade só vai piorar. E, muito em breve, refletirá também nas vendas de publicidade – que já não estão lá tão boas como antigamente.

É tempo de (re)inventar para sobreviver. Espero que a grande imprensa veja – e pense – essa nova realidade.

rf2015d

andreletricista

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

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