Opinião: o beijo, a intolerância e a falta de “evolução” da humanidade

beijocenaSe há algo que a humanidade não está preparada para lidar é com o fim do preconceito. A prova disso, mais uma vez, foi dada ontem a noite, com o “polêmico” (por que polêmico?) beijo na novela Babilônia entre Fernanda Montenegro e Nathalia Thimberg. O que temos visto, desde então, é uma saraivada de comentários intolerantes contra o homossexualismo e também de “defesa” da família, núcleo esse que a Rede Globo estaria “destruindo” em sua programação.

Pois bem, vejamos… falando enquanto pesquisador da área de comunicação, já li diversos trabalhos acadêmicos, publicados por pesquisadores sérios e reconhecidos no Brasil e no exterior, onde as novelas são alvo principal de suas investigações. Todos eles apontam que essa dramaturgia normalmente reflete aspectos da cultura atual de uma sociedade e, por mais que sejam obras de ficção, as referências ao mundo “real” são extremamente importantes par reforçar o princípio da verossimilhança, ou seja, o efeito de realidade dessas produções dramatúrgicas.

O beijo homossexual da noite de ontem é pura e simplesmente reflexo de algo que é cada vez mais comum e que, infelizmente, ainda é alvo de muito preconceito. Quem vive – ou convive – com capitais, já se acostumou a ver casais homossexuais passearem de mãos dadas e trocarem beijos carinhosos, assim como um casal hetero faz. E que mal há nisso? Deixaram de ser pessoas, deixaram de ter sentimentos e, principalmente, o fato de serem do mesmo sexo cassa o direito deles de serem respeitados? Não, de jeito maneira.

A novela é um produto cultural. Ela carrega traços de nossa sociedade, civilização e ainda serve como instrumento de crítica, seja social ou política. O fato da emissora “materializar” aquilo que todos sabemos que existe, não deveria chocar. Muito pelo contrário, deveria estimular a reflexão e, acima de tudo, o respeito que os humanos devem ter uns com os outros.

Infelizmente, não é o que estamos vendo. E, só para relembrar do “mundo real”, há cerca de 15 dias um adolescente foi espancado até a morte no Brasil pelo simples fato de ter sido adotado por um casal homossexual. Aí eu me pergunto aos radicais religiosos: em qual parte das escrituras sagradas ou bíblicas o homem está autorizado a matar outro por conta de sua orientação sexual? Uma vida vale menos que o preconceito?

A conclusão que eu chego ao refletir sobre o tema é uma só: avançamos, mas não evoluímos (pelo menos, uma parcela considerável da humanidade). Que pena! Ainda temos muito a aprender para continuarmos vivos nesse “mundo velho”.

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jm

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

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