Tragédias e o duro ofício de ser jornalista

Ser jornalista não é uma tarefa fácil. Se já é ruim dar uma má notícia, quando ocorrem mortes de qualquer forma que seja, mais difícil ainda é quando essa tarefa inclui alguém que você conhece, gosta e convive. Infelizmente esse ofício que nos dá tantas alegrias, também nos afeta de sobremaneira muitas vezes. E é a partir dessa reflexão que desenvolvo o restante desse texto.
Esse dia 8 de março foi um dos mais tristes que já vivi como jornalista e, possivelmente, um dos mais tristes para várias famílias da cidade. Tivemos três falecimentos que comoveram a nossa população. No entanto, vou me concentrar na tragédia registrada na rodovia, a BR-364, que vitimou Ivana Azanha, sua neta Paulinha e seu neto José Joubert, sendo que este último está internado em estado grave no Hospital em Uberaba até o momento (agora são 0h01m do dia 9 de março já).
Quando se é jornalista e se deve registrar uma tragédia como essa, ficamos com o coração partido. Nesse caso em específico, sou amigo próximo dos tios, avó paterna e do pai das crianças. Não nego ter ficado muito transtornado em ter que relatar o ocorrido nesse blog. E confesso que a primeira versão da notícia que fiz estava com alguns equívocos imperdoáveis, mas que corrigi porque, acima do sentimento, está o ofício de informar.
No entanto, nesse processo de transformar fatos em notícia, nos deparamos com muita informação errada e, principalmente, especulações. Seja lá qual foi a causa do acidente – e para isso a perícia técnica irá apontar evidências – a dor da família já é suficientemente grande para ter que conviver com especulações. Some-se a isso a irresponsabilidade de pessoas que compartilham fotos da dor alheia em redes sociais e ainda dizem que “se fosse a imprensa ninguém iria reparar”. Aí é que entra o nosso ofício de jornalista do qual, hoje, tenho orgulho de ser docente na UEMG.
Aprendemos na Universidade – e ao longo da vida – que o respeito pelo ser humano está acima de tudo. Quando publicamos determinada foto ou matéria, por detrás do produto pronto e acabado que chega ao leitor, há anos e anos de estudo e experiência profissional que nos faz, sobretudo, sermos mais humanos. Não preciso nem falar de ética, que essa, todo mundo deveria ter. E me espanta o quanto a humanidade das pessoas está sendo deixada de lado apenas pelo “prazer” de ver o sofrimento e a dor alheia. Me incomoda, muito, que um pai desesperado ao perder a sua filha seja alvo de exploração por parte de A, B ou C sem necessidade nenhuma.
E é aí que reside a diferença de um profissional de imprensa da grande maioria das pessoas: gostem ou não, quem está nesse meio tem e deve ter sensibilidade com a dor alheia. Relatar uma notícia, como a que hoje relatei, é doloroso. Mas quando o fazemos, estamos conscientes das nossas responsabilidades não só com os leitores como também, e principalmente, com o outro lado da história: a família e sentimentos de quem perdeu entes queridos.
O ofício de jornalista, por mais que possa parecer “fácil”, te exige responsabilidade e sensibilidade. Mesmo que isso signifique passar por cima dos seus sentimentos.

rf2015d

 

deny

Comments

comments

rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

%d blogueiros gostam disto: