O ENEM e a realidade da educação brasileira

A divulgação do resultado do ENEM nos trouxe uma preocupação “monstruosa” da realidade da educação no Brasil. Além da queda na média geral em relação ao ano passado, o dado que mais me chamou atenção foi o fato de mais de 529 mil jovens terem tirado 0 na nota da redação. Isso mesmo, mais de meio milhão de estudantes conseguiram zerar numa das fases que, a meu ver, deveria ser de bom desempenho, independente da orientação do aluno para exatas ou humanas.
O tema proposto no ano passado foi a questão da publicidade infantil, o que suscitaria diversas discussões desde a qualidade dessas produções até a questão ética, ou seja, se podemos considerar válido produzir peças de publicidade direcionadas a sugestionar crianças que sequer tem maturidade intelectual de separar a ficção (desenhos, seriados, etc.) da realidade. Obviamente que para uma pessoa da área da Comunicação, como eu, discorrer sobre esse tema e alongar diversas páginas sobre a questão é relativamente fácil. Mas não é só o tema que foi o responsável por provocar essa enormidade de notas 0 durante o ENEM.
Conforme o que foi noticiado pela imprensa nacional, muitos jovens conseguiram zerar porque escreveram textos não adequados ao tema proposto e também por não utilizar a linguagem adequadamente. Na prática, isso significa que aqueles jovens não souberam manipular a língua portuguesa, escrever corretamente, pontuar, utilizar vírgulas, usar as palavras de forma coerente e ainda encadear uma sequência lógica de ideias que permitam a inteligibilidade de um texto.
Isso é um reflexo claro e manifesto do que tem ocorrido com a educação brasileira. Não só pelo desestímulo de professores ou de salários que não condizem com a realidade e importância da função. Mas também o fato dos governos se importarem mais com números de “aprovados” do que a qualquer outra coisa. Assim, evita-se fazer com que jovens repitam de ano, que façam recuperação e, com um jeitinho brasileiro, acabam empurrando os estudantes para os anos seguintes sem que eles tenham condições de chegar até lá.
As notas do ENEM servem para uma reflexão para os pais e educadores. Porque, infelizmente, não tenho crença de que os governadores, incluindo a presidente, tenham muita preocupação em garantir melhor ensino para seus governados. A participação dos pais e da família no estímulo dos jovens ao estudo é fundamental. Ou então estaremos fadados a produzir uma geração de semianalfabetos com diploma de ensino superior, o que vai refletir diretamente na qualidade dos serviços prestados em todas as áreas: da engenharia à medicina.
Os dados estão aí. A preocupação também. Compete a nós, agora, resolver qual postura adotaremos daqui para frente.

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

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