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“Seu” Moisés: 64 anos de pequenos (mas úteis) serviços

Peço licença aos leitores do blog para uma abordagem diferenciada hoje. Apesar de termos registrados alguns fatos na cidade como roubo, furto, etc., dedico a postagem dessa tarde de quinta a uma figura que é muito conhecida dos moradores mais antigos da cidade, mas que provavelmente os mais jovens não o conhecem: o “seu” Moisés, da Lojinha do Moisés.

Numa época em que tudo é descartável, que se troca uma calça que perdeu o botão por outra com a maior facilidade, é difícil acreditar que há ainda aqueles que sobrevivam com trabalhos artesanais simples como trocar um zíper, pregar um botão numa calça, colar um sapato ou mesmo fazer um furo numa cinta. E não há de ver que é exatamente esse o ofício de Moisés?

Estive hoje em sua lojinha para um bate-papo rápido e, claro, pegar uma bolsa que ele havia acabado de trocar o zíper. E descobri que hoje ele já está com seus 76 anos, sendo que 64 anos de sua vida foram dedicados à profissão de pequenos serviços em sua “lojinha”. Hoje, já cansado do serviço, pensa em parar, afinal, “são mais de 60 anos sem férias”, frisou na conversa.

Quem entra na lojinha parece ingressar naquelas antigas lojas da década de 50 ou 60. Um balcão de madeira, várias ferramentas na parede, latas e latas com todos os tipos de botões, colas, linhas e o que mais for preciso para o serviço. Nas prateleiras, incontáveis peças de roupas e acessórios se empilham. E apesar dos preços módicos (um zíper trocado entre R$10 e R$15, um remendo numa bolsa por R$3, enfim, depende da complexidade do serviço), é enorme a quantidade de pessoas que levam serviço até ele e jamais voltam para buscar. É o que ele me contou enquanto revirava uma pilha de bolsas – algumas há mais de um ano esperando o seu dono de volta.

“Ano passado sofri um acidente por conta disso. Separei três caixas de coisas que arrumei e que ninguém veio atrás e fui jogar fora. Enquanto colocava o material no caminhão de lixo, acabei sendo acertado na canela pelo para-choque de aço do caminhão. Demorou muito para sarar”, relembra.

Com o peso da idade e ainda cuidando de sua esposa que está enferma, Moisés pensa mesmo em “pendurar a chuteira”. “Não estou aguentando muito mais não. Acho que vou parar muito em breve. A vista já não é a mesma, o físico também não. Acho que agora é descansar e esperar”, desabafa.

Sua lojinha, hoje localizada na avenida Goiás, já teve diversos endereços: Praça da Matriz, “onde fiquei durante 25 anos e 4 meses. Depois fui subindo para o Calçadão, porque essa é a vida de quem paga aluguel. Até montar a loja aqui na garagem da minha casa. Acho que daqui, só para o céu”.

Antes de sair, pergunto se lembra de meu pai. E por alguns minutos conta algumas passagens e conversas que teve com o saudoso Sérgio Portari. Antes de ir embora, pergunto:

– Posso tirar uma foto do senhor?

– Claro! – diz se posicionando para a foto.

– Vou colocar no jornal! Posso?

– Claro que sim, meu filho!

Torço para que seu Moisés, apesar do cansaço, ainda continue na ativa por muitos anos. Afinal, é sempre um prazer bater um papo com ele e, mais que isso, é sempre útil e de qualidade os pequenos serviços que ele presta.

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

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