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Paixão que não tem idade!*

“Tem figurinha para trocar?” Se a resposta foi “sim”, digo-te caro leitor, que há nesta cidade dois lugares que você não pode deixar de visitar: o Coca Café e a Banca do Léo, famosas entre os amantes dos cromos. Ultimamente, essa é a pergunta que mais se tem ouvido. E muito se engana quem pensa que colecionar figurinhas da copa é coisa de criança.

O hobby está cada vez mais sendo levado a sério, e a gana pelas 640 figurinhas instiga desde crianças até os adultos com os cargos mais renomados. Prova disso é Júlio Alfonso Dutra, 36 anos, professor e vice coordenador do curso de administração da UEMG, que se orgulha ao mostrar o “álbum luxo” ( versão em capa dura) que completou em apenas duas semanas. ”Quando terminei o álbum, quase chorei de felicidade”, diz o professor.

A paixão em colecionar começou muito cedo. Quando criança, Júlio colecionava latinhas de cerveja, chaveiros, figurinhas de chiclete e figurinhas que vinham no “chocolates surpresa” . “Tudo o que eu podia colecionar eu colecionava. Inclusive, minha coleção de chaveiros, foi exposta no museu de minha cidade. Eram mais de 5 mil chaveiros. Eu catalogava todos, tinha um certo controle.”

Apesar de ser um colecionador experiente, esta é a primeira vez que ele completa um álbum da copa. Como morava no Maranhão, encontrava algumas dificuldades quando o assunto era coleção de figurinhas. “Não tinha dinheiro para completar e lá no Maranhão as pessoas não tinham esse hábito, então não tinha com quem trocar”, conta.

Ao chegar em Frutal, viu que as coisas eram diferentes. A cidade dispõe de pontos de venda e troca, o que facilita muito a vida de um colecionador. “Quando cheguei aqui, não pensei duas vezes e logo comprei o meu.” Para o professor, a fissura pelas figurinhas pode ter ligação com a infância. “A gente só fica adulto pra trabalhar e realizar os sonhos de criança, e o álbum da copa do mundo é a menina dos sonhos de todo colecionador”.

Para muitos, a busca incansável pelas famosas figurinhas, além de ser terapêutico, estimula a generosidade. “Lembro-me de quando estava quase completando meu álbum e um menino veio me mostrar sua coleção. Comentei que ele tinha uma figurinha que me faltava e então, ele arrancou a figurinha do álbum dele e me deu. Aquilo me marcou muito. Foi um ato que nunca vou me esquecer.” Conta o vice coordenador, emocionado.

Já com o álbum completo, Júlio se prontificou a ajudar os colegas de trabalho que ainda estão na busca. Entre um intervalo e outro, o professor faz o intercâmbio de figurinhas repetidas entre os frequentadores da UEMG. “ Estou meio que de gerente organizacional de figurinhas do pessoal da universidade”. O hobby, também virou febre nos corredores na UEMG.

Rodrigo Portari, também professor da universidade, não ficou de fora. “Coleciono desde pequeno. Falando de copa, especificamente, tenho o álbum de 94, 2002 e 2014. Coincidentemente em 94 e 2002 o Brasil ganhou a copa. Nos anos que eu não colecionei, o Brasil não ganhou. Se eu não colecionasse esse ano e o Brasil perdesse, ia me sentir culpado.”, brinca o professor.

Mesmo com a rotina corrida, Portari arruma uma brecha para praticar seu hobby. “Faltam-me exatos 219 figurinhas pra eu completar. Todo sábado e domingo dou um pulinho lá no coca café e na banda do Léo pra trocar figurinha.” Quem ganha com isso, são os estabelecimentos, que reservam um lugar especial na vitrine para atrair esta clientela. E pelo jeito, funciona.

E OS ESTABELECIMENTOS LUCRAM…

Flavio Cordeiro, 39 anos, é um frequentador fiel. Todo final de semana ele vai ao Coca Café com a filha, e confessa que chegam a gastar 30 reais por semana. Já na reta final da coleção, Flavio diz que a figurinha mais procurada é a de número 120, do jogador Fábregas. “Esse tá difícil. Em compensação a do Christiano Ronaldo, vem toda vez.”

Apesar de nesta copa, diferentemente das anteriores, a tiragem das figurinhas serem iguais, Flávio não é o único que custa a encontrar uma especifica. Para Mauro Binatti, 54 anos, a figurinha da bola é uma raridade. Mesmo alegando ter sido influenciado pelos filhos, Mauro não nega sua admiração pela busca incansável dos colecionadores. “ Comecei por causa deles, mas acabei pegando gosto. Relaxa e estimula a solidariedade entre as crianças”.

Nas vésperas da copa, a procura pelos álbuns deslanchou. O álbum tradicional sai por 5 reais, mas quem prefere algo mais diferenciado, terá que desembolsar uma bagatela de 25 reais pelo álbum de capa dura. Cada pacotinho, que vem com 5 figurinhas e custa 1 real. Isso significa que cada álbum completo não sai por menos de 135 reais. Mas tem gente que gasta muito mais que isso. “Tem gente que já gastou aqui mais de 400 reais” conta Leonardo Alves , mais conhecido como Léo, dono da banca que leva seu nome.

Lucas Eduardo, 11 anos, é um freguês fiel da banca. Gasta em torno de 15 reais por semana. Mas não pense que por sua pouca idade, Lucas é um aventureiro de primeira viagem. O jovem garoto já colecionou o álbum da copa de 2010. Mostra-se determinado a completar o dessa copa, e ansioso para completar a seleção brasileira.

Para quem não tem tempo nem ânimo para se dedicar pela busca, mas não abre mão de ter essa lembrança, pode optar por comprar a versão em que junto com o álbum, vêm todas as figurinhas, prontas para serem coladas nos seus devidos lugares e sai por 350 reais. Além dessa, há também a opção de comprar um álbum completo de algum colecionador que esteja disposto a vender. Léo já completou 4. Um ficará com ele, de recordação, e os outros, já foram vendidos. Cada um por 400 reais.

DO ESTÁDIO PARA AS BANCAS, E DAS BANCAS PARA A INTERNET

Em ano de copa, tudo sobe, menos os salários. Se você está apertado, mas quer colecionar… vai ter que arranjar outra desculpa. Os álbuns virtuais estouraram. Existem mais de 2 milhões de álbuns virtuais começados , quase 100 milhões de pacotes abertos e aproximadamente 130 milhões de figurinhas trocadas.

Para começar seu álbum, é só entrar no site oficial da FIFA/stickeralbum e se cadastrar. Lá, há uma área para troca de figurinhas, grupos de colecionadores e até a chance de você colocar o seu nome no Hall da Fama do Álbum de Figurinhas Virtual Panini ( editora responsável pela publicação das figurinhas) da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. A novidade é que pela primeira vez, o Álbum de Figurinhas Virtual Panini está disponível em aplicativo para smartphones e tablets, nas plataformas IOS e Android.

Se por um lado a coleção virtual é mais prática e rápida de ser completada, por outro, não há nela, um terço da emoção que o álbum real proporciona. “Não tem nem comparação. Tudo o que é mais difícil tem mais valor. No virtual, você não negocia, não tem olho no olho, é só um click e tudo está feito”.

MAGIA DA COPA

Fato é que, sendo virtual ou real, gastando muito ou pouco, sendo jovem ou não, se dedicando muito ou nem tanto, a copa, que será sediada no Brasil, mexeu com ânimos dos brasileiros. As figurinhas são só mais uma prova disso. A paixão que o brasileiro carrega pelo futebol, fez com que milhões de pessoas corressem para as bancas e comprassem um álbum, para guardar de recordação.

Pessoas estas que se deixaram levar pela magia da copa e viram nos álbuns, uma oportunidade de se distrair, fazer amizades, e também de praticar a solidariedade. Esta mesma magia está estampada no rosto de cada criança, cada adulto, cada homem e cada mulher que por um momento, se esquecem dos a fazeres e já vão logo tirando um montinho do bolso, perguntando: tem figurinha pra trocar?

*Reportagem: Carolina dos Reis, Carol Mariano, Iniémerson Barbosa, Kamilla Scarelli, Marianna Souza e Rainy Couto

Trabalho dos alunos publicado no blog http://www.jornalismouniversitariouemg.blogspot.com.br/ da disciplina do professor Lausamar Humberto. Parabéns aos estudantes!

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

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