Carro de boi

Quem me conhece mais de perto sabe que meu gosto musical é bem variado e que, salvo um ou outro ritmo ou composição, via de regra ouço de tudo. E foi num dia desses, dirigindo logo nas primeiras hora do amanhecer, ouvindo no carro algumas “modas de viola” das boas que reencontrei a música Carro de Boi, de Ronaldo Viola & João Carvalho. E tem dias que você se atenta mais para a letra, a composição e a reflexão daquilo que está sendo narrado. Foi assim que por uns 4 minutos concentrei as atenções na letra da composição e um trecho, em específico, me coloca à reflexão.

Na música, o cantor compara a vida dele com um velho carretão, fala da saudade de sua amada mas, o que realmente ele quer nos dizer é que: assim como um carro de boi que fica velho, o tempo não perdoa a ninguém depois de tanta carga pesada carregada ao longo da vida. E, lá pelo finaliznho, aquele “eu lírico” nos conta: ” O tempo é o carreiro / E breve vai me encostar”.

Foi aí, já no finalzinho da música e, sozinho na direção, que me peguei a pensar, mais uma vez, nesse ser implacável que é o tempo. Filho de Cronos, ele devora a todos, sem piedade. E dali em diante, pelos próximo 80 quilômetros que tinha de BR-153 pela frente, o pensamento se fixou nessas reflexões acerca das passagens do tempo e das marcas temporais que vamos criando – conscientes ou não – físicas ou emocionais, em nossas vidas.

Em flashes vieram cenas da infância, ainda moleque com 5 anos (idade do meu filho mais novo hoje) voltando para Frutal numa mudança de Uberlândia lá para a rua Bias Fortes, ainda nos idos anos de 1988. Daquele dia em diante, nunca mais saímos dessa cidade. Fincamos nosso pé, nossas vidas, enterramos todos nossos antepassados e fixamos as raízes do futor com nossos filhos. Mal sabia aquele garoto, inocente e empolgado com a mudança – mas triste por deixar seu melhor amigo para trás (e hoje sequer lembro o sobrenome dele para procurá-lo no Facebook!) – que as próximas três décadas transformariam muito de sua vida.

O tempo, que não pára nunca de passar, trouxe com eles as alegrias e felicidades que todos nós somamos em nossa experiência de vida. E, claro, marcou muita coisa num “peito já carregado”. Agora, já há pouco tempo de chegar na tal da “meia-idade” dos 40 anos, começo a ver como realmente o tempo tem sido “carreiro” e, não tenho dúvidas, em algum momento vai me encostar.

Só espero que, até lá, possa ter vivido um outro tanto desse (ou mais), e que tenha a oportunidade ver o tempo começar a sua “carreira” para tentar encostar naqueles que hoje estão despreocupados com ele. Mas a grande certeza é que, tal como o carro de boi, as cargas pesadas do mundo um dia há de cessar. E veremos e viveremos mais leves, felizes, e prontos para o fim da jornada.

Bom sábado a todos!

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

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