Fala, Portari!

“Pai, estou com saudade de ir para a escola. Acho que já nem lembro mais como é”. “Jesus, manda longe esse corona logo para eu poder brincar de novo na rua”. “Pai, quando que isso vai acabar?”.Começo o texto de hoje citando três frases que ouço várias vezes do meu filho, João Daniel, de apenas 5 anos de idade.

Ele, assim como todos nós, já está sentindo os efeitos de tudo que está acontecendo. Pode até ser que ele demorou um pouco para manifestar seus sentimentos, mas é fato que não só ele, mas todos nós estamos exaustos com toda essa situação.

Não escondo que é de cortar o coração para um pai não saber dar respostas para seu filho. E também dá mais aperto no peito quando pensamos que provavelmente estou longe de chegar a uma resposta concreta. Desde março, quando a pandemia instalou-se no Brasil, não temos a mínima possibilidade de saber para que lado vai essa doença.

Quando pensamos que está tudo indo bem, notícias nos mostram o contrário.Ao achar que as pessoas estão se conscientizando um pouco mais, pelo contrário, recebemos vídeos e fotos de parte da população vivendo como se tudo já tivesse normal.

E é nessa “normalidade” forçada faz com que a situação se arraste cada vez mais e mais.Fora isso, a mistura de religião e convicções pessoais com ciência também provoca um alargamento dessa situação, a partir do momento em que a gente tem “fiéis” em um remédio milagroso de um lado, céticos de outro, e os pesquisadores virando noites e noites em busca de uma solução que, se não definitiva, que seja paliativa.

Até lá, olhando para o João Daniel aqui, fico pensando em quando terei argumentos para conversar convicentemente com ele. E, mais que isso, começo a refletir como esse ano de 2020 marcará a sua vida nas próximas décadas.

Se eu, beirando aos 40, já estou afetado, imagino que ele também enxergará o seu mundo de forma diferente quando puder voltar a conviver normalmente com seus coleguinhas e, mais que isso, com esse mundo que nos cerca.

Vou ficando por aqui. Ainda pensando na oração do João. E esperando as respostas certas para dar a ele.

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

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