Crônica: Do que adianta inglês, espanhol, se não falo Libras?

“Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”. Essa frase de Wittgenstein é, para mim, uma das mais verdadeiras que existe. E digo isso por experiência própria. Curiosamente, o fato que narro na crônica de hoje demonstra que muitas vezes saber língua estrangeira não é suficiente e que nosso mundo pode ser limitado até dentro da sua própria cidade.

Assim, inicio a narrativa contando duas passagens ocorridas comigo. Já tive a oportunidade em anos passados de participar de Congressos de Comunicação na Europa. Um deles, em Madrid, na Espanha. O Congresso era de comunicação Ibero-Americana, com trabalhos para serem expostos tanto em português como em espanhol. Trabalho aprovado, auxílio concedido para o deslocamento, fui com certa tranquilidade apesar de não falar mais do que duas ou três palavras em espanhol.

Mas eis que, no dia da apresentação, ao entrar na sala de aula da Universidade Complutense de Madrid, dou uma olhada para as cerca de 30 pessoas que estão ali e já “senti” que português não era uma opção. Dando aquela olhadinha nos crachás, vi logo que tinha razão: eram pesquisadores da Espanha, Chile, Argentina, México… ao subir para apresentação, a pergunta trágica: “Posso apresentar em Português?”. Um sonoro “melhor não”. “In english?”. “No!”. “Portunhol?”. “Sí”. E, assim foi. Com aquele portunhol que aprendemos nas ruas, apresentei o trabalho. A minha sorte é que o resumo e os slides havia feito bilíngue, o que ajudou – e muito – a plateia.

No entanto, outro ocorrido me mostrou que meu mundo, muitas vezes, não é tão amplo assim. E isso foi aqui em Frutal. Tempos atrás estava sentado em uma lanchonete e, ao lado, algumas pessoas conversando em libras. Eram surdos-mudos que animadamente se comunicavam e, um deles, conhecido meu, me chamou para sentar ali com eles. E mesmo sabendo português, tendo noções de inglês e espanhol, naquele momento, vi que meu mundo precisa ser alargado.

Conheço pouco de libras. Consegui compreender algumas das coisas que eram ditas por ali. Mas acredito que perdi muito, mas muito mesmo da conversa. E, enquanto me esforçava para entender o que era dito e, mais ainda, tentava de alguma forma contribuir para aquele debate, Wittgenstein ressoava na minha mente: “minha linguagem é o limite do meu mundo”.

Assim, do que adianta ter viajado para o exterior, ter conversado com pessoas de várias nacionalidades nessas oportunidades, se sequer consigo conversar em Libras com pessoas da minha cidade?

É, meu mundo precisa ser alargado. Ou então vou perder muito dele ainda!

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

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