Frutal perde J.Vasco, um dos precursores do rádio na cidade

Frutal perdeu hoje mais um de seus precursores no rádio. Morreu nessa manhã José Vasco Mota, mais conhecido como J.Vasco. Locutor, repórter e narrador esportivo, J. era uma pessoa ímpar e que viu o rádio nascer em Frutal. Foi um dos primeiros locutores da extinta  Rádio Frutal AM, vindo para a cidade em 1976 a convite de José Buzzollo. Ele estava internado por problemas de saúde e não resistiu.

Particularmente tive a felicidade de trabalhar algumas vezes ao lado de J., sempre aprendendo com sua experiência e, mais ainda, divertindo coma s dezenas de histórias acumuladas por ele ao longo de sua carreira. Em 2010, como professor da UEMG, fui orientador da jornalista Zilma de Oliveira em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que versava sobre a história da fundação da Rádio Frutal AM. Um dos capítulos foi dedicado aos locutores que foram os precursores do rádio, entre eles, uma bela entrevista com J.Vasco feita pela Zilma. Em sua memória e homenagem reproduzi abaixo o trecho do TCC onde J. narra sua chegada a Frutal e os anos iniciais de sua carreira em nossa cidade.

Aos familiares, meus mais sinceros sentimentos. A comunicação em Frutal, hoje, está em luto!

J. Vasco: Uma referência na comunicação AM

Outro funcionário que atuou por vários anos ao lado de Buzollo foi locutor e narrador esportivo José Vasco Mota, 76 anos, que adotou desde o início da carreira, há 45 anos, o pseudônimo J. Vasco. O amor pelo rádio surgiu na década de 1960 quando ele foi
convidado para trabalhar na rádio Record em São Paulo. De lá para cá nunca mais parou. Passou por dezenas de emissoras AM até chegar a Frutal, depois que o empresário Buzollo foi pessoalmente a Ituiutaba, onde J. Vasco trabalhava, para convidá-lo
a fazer parte da equipe.

O primeiro dia de trabalho na nova emissora o mais recente contratado não esquece: 1º de Setembro de 1976. No entanto, J. Vasco confessa que a primeira impressão que teve ao chegar em terras frutalenses não foi das melhores. Depois de alguns meses trabalhando na rádio AM, veio o desejo incontrolável de ir embora, afinal, segundo ele, não havia aqui parentes seus e a cidade era muito pequena. Mas J. Vasco acabou convencido a ficar não só por Buzollo como também por diversos amigos que conquistou
por meio de sua atuação. J. Vasco ficou bastante conhecido ao comandar o programa diário, das 14h às 16h, chamado “Às suas ordens”, que se manteve como líder de audiência por vários anos, principalmente nas fazendas. Foi o autor de chavões populares que
até hoje são lembrados com carinho por parte dos ouvintes quando o profissional sai às ruas, a exemplo de: “Relógio que atrasa não adianta”; “A hora passa, o tempo não pára”, entre outros. Nos 14 anos que foi funcionário de Buzollo, J. Vasco afirma que fez de tudo um pouco: foi locutor, auxiliar e apresentador do programa de radiojornalismo de maior sucesso da emissora que foi o Balanço Geral.

A pedido de Buzollo,se aventurou em uma área nova que mais tarde se tornou também uma referência em sua carreira: a narração esportiva. Pode com isso, participar de jornadas esportivas internacionais, como a transmissão dos jogos entre o Brasil e Bulgária, no Parque Sabiá, em Uberlândia, e de Brasil e Tchecoslováquia, no estádio Serra Dourada, em Goiânia.
“Dentre as várias passagens engraçadas e curiosas que vivenciei não me esqueço quando tive de narrar os nomes dos atletas da Bulgária.
Sei que a maioria terminava em Vick. Tinha um lateral com tanto Y e W no nome que nunca vi. Mas como lateral pega pouco na
bola, pensei: não vai dar muito trabalho, me enganei porque foi o jogador que mais tocou na bola, durante 10 minutos apanhei um pouco, mas depois fui me adaptando”. (MOTA, 2010)
J. Vasco afirma se sentir honrado de ter tido a chance de trabalhar ao lado de outros grandes nomes da comunicação radiofônica AM local com quem pode dividir momentos de alegria e de muito profissionalismo, dentre os quais se destacam: Roberto Silva, Marco Túlio (filho de Buzollo), ambos falecidos, os narradores esportivos Luiz Antônio Ferreira (O Agulhinha) e Geraldo Gonçalves, Sinomar Juliano, Paulo Aguiar, João Quirino, Overlan de Paula, Dimas Aguiar, Adriano Queiroz. Na área de jornalismo J. Vasco conviveu
com profissionais como José Cláudio de Oliveira, atualmente na Record em São Paulo, com o repórter policial já falecido Osmar Silva, a repórter Zilma de Oliveira, e vários outros, que passaram pela rádio Frutal AM.
Trabalhar para o empresário José Buzollo foi um desafio e um aprendizado muito grande, reconhece J. Vasco, ao dizer que a hombridade e a honestidade dele é que o convenceram a permanecer na cidade: “Quando vim para Frutal notei a moral e o respeito que Buzollo tinha aqui, ele era querido. Além de tudo, me ajudou muito de forma espontânea. Digo com orgulho que a comunicação é a linha mestre do progresso, baseada nela é que surge a vontade de crescer. Podem existir no mundo pessoas honestas como Buzollo, mais do que ele não tem”. (MOTA, 2010).

Com 45 anos dedicados ao rádio em geral, o reconhecimento ao trabalho de J. Vasco chegou em 1993 em forma de Título de Cidadão Honorário, entregue pela Câmara Municipal de Frutal. “O rádio foi e é até hoje tudo na minha vida. Por meio dele, constituí família, fiz centenas de amigos, aprendi coisas novas e confesso que, ao parar em 1998, sinto muita falta, porque o rádio está no meu sangue”. (MOTA, 2010).

Fonte: OLIVEIRA, ZIlma. A  história do rádio em Frutal. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na Universidade do Estado de Minas Gerais como parte do pré-requisito para obtenção do diploma de bacharel em Comunicação Social – Jornalismo. Frutal, 2010.

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

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