Porque não comemorei os 130 anos de Frutal

Ontem Frutal comemorou seus 130 anos. E nem tive muito ânimo de desejar “parabéns” para a minha cidade. Não que Frutal não mereça. Merece sim, e muito. Aqui foi construída minha vida, minha família e meus sonhos. Muitos deles se tornaram realidade, outros estão a caminho. Mas o fato é que não consegui comemorar o aniversário da cidade diante de tantas coisas que ocorrem por aqui em, como dizem os mais íntimos (ou seriam irônicos?): “Brogodó”.

Pensar que nas últimas três décadas tivemos uma alternância de poder fictícia por aqui, é um dos motivos que me levam a olhar com certo pesar a história da cidade. Olhar para o quanto estamos estagnados na questão de geração de emprego e atração de investimentos, também.

Se olharmos para a saúde, no geral, também não temos muito o que comemorar na atualidade: de uma realidade de cinco hospitais na década de 1990 (São José, São Lucas, Maternidades, Santa Casa e Hospital Regional), passamos a ser dependentes de dois hospitais que, via de regra, estão superlotados justamente pelo grande número de leitos fechados de lá para cá (Hospital Frei Gabriel, que é público e atende a toda região e agora é administrado por uma empresa que me levanta sérias dúvidas sobre sua atuação; e o São José, que atende aos planos de saúde e via de regra está lotado, mesmo com o bom atendimento dos profissionais de lá).

Cine Canaã. Só restam lembranças e saudades

No que tange a opções de lazer e entretenimento… ou contamos com os campeonatos de futebol, ou estamos n’água. O cinema fechou faz quase duas décadas e o prédio sequer existe mais (e pensar que Frutal chegou a ter quase 500 cadeiras de cinema lá na década de 70/80). O museu fecha aos finais de semana, não temos exposições ou muitas atividades de lazer disponíveis para nos entreter aos sábados e domingos (ressalto aqui o esforço do pessoal da cultura em promover atividades mas, via de regra, de segunda a sexta, o que inviabiliza a participação de muita gente que trabalha no período noturno, tal como este que vos escreve). O que salva é o Parque dos Lagos, mas a parte mais nova… a parte de cima encontra-se numa situação que não é muito agradável ficar por lá. Nem pipoqueiros na praça temos mais! (Lá em Aparecida de Minas, ainda tem!).

Falei de esporte logo acima… O  Marretão está lá, parado, sem qualquer tipo de uso… infelizmente!

E quando me perguntam os motivos disso ocorrer, não consigo deixar de imaginar que a gestão da Prefeitura também tem sua parcela de contribuição para isso. Pois, para além de obras, de realizar e cumprir políticas públicas, não vemos muita atividade do Executivo em atrair melhorias para a cidade. E isso está enraizado de 1992 para cá. É meio que só devemos fazer o “arroz com feijão”: tapar buraco, consertar praça e dar cestas básicas. O resto… ou a iniciativa privada se vira (sem muitos benefícios), ou a população que vá a Barretos, São José do Rio Preto, Uberaba ou Uberlândia para saciar suas outras necessidades.

E nem vou falar de segurança pública, pois o crescimento populacional veio junto com o aumento de furtos, roubos, homicídios, entre tantos outros crimes, tal como era de se esperar com a concentração de maior número de pessoas na cidade sem que as políticas públicas acompanhassem as demandas surgidas.

Se houve algo significativo nessas últimas três décadas, foi a chegada da UEMG. E junto com ela, essas necessidades todas acima expostas, cresceram, fruto dos nossos alunos que vêm de outras regiões, outras cidades e que sentem essa necessidade de consumir cultura, lazer, entretenimento, mas não encontram isso por aqui com tanta frequência.

Enfim, por tudo isso, não consegui comemorar os 130 anos de Frutal. Não, não estou sendo pessimista. O povo de Frutal é muito bom. A cidade é muito boa. Pena que não tem encontrado ainda o caminho do desenvolvimento que muitos sonham (e não estou falando só do inchaço populacional impulsionado por casas populares, estou falando em se desenvolver em vários outros aspectos, da cultura aos serviços de saúde).

Mesmo assim, com um elegante (ou não) atraso de um dia, meus Parabéns, Frutal! Que os próximos 30 anos não sejam como foram os últimos…

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

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