Chiquinho Sorvetes: de Frutal para a Europa

Conhecido pelo clima tropical e terra da maior cervejaria do mundo, o Brasil carece de redes nacionais especializadas em sorvete. Uma série de candidatas têm despontado nos últimos anos, como as paulistanas Diletto e Baccio di Latte. Mas vem de Frutal, no interior de Minas Gerais, a mais ambiciosa empresa do setor, a Chiquinho Sorvetes.

Presente em mais de 25 estados do país, a rede de sorveterias atrai mais de 2 milhões de clientes por mês e pretende terminar 2019 com mais de 500 franquias pelo Brasil. Depois de se consolidar como uma das maiores redes do interior do país, a empresa, famosa pelos sorvetes de casquinha, tenta agora ganhar terreno no exterior.

A Chiquinho fechou um contrato com um parceiro em Portugal para abrir franquias da sorveteria no país no primeiro semestre de 2020. A parceria é no modelo de máster franqueados, em que o sócio é totalmente responsável pela operação, distribuição e franqueamento de novas lojas da marca na região. No Brasil, o modelo é aplicado no Ceará, em Pernambuco e em Alagoas. Seguindo essa estrutura, a companhia planeja abrir outras lojas no Panamá e na Costa Rica no ano que vem. Há negociações acontecendo também para expandir para a África do Sul e o Paraguai.

Desde 2018, a Chiquinho possui três lojas nos Estados Unidos, na Flórida. Diferentemente da Europa e da América Central, lá a empresa investiu mais de um milhão de dólares para abrir lojas próprias. De acordo com Isaias Bernardes, presidente da empresa, isso foi feito para que fosse possível entender e ajustar os produtos ao mercado americano antes de franquear no exterior. “Nos EUA, o sorvete soft é considerado menos nobre, mas nós entramos com um produto premium e está sendo um sucesso, estamos consolidando a marca”.

Expansão nacional
No Brasil, das 469 unidades em operação, 38% estão concentradas nos estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais. Agora, os planos de expansão de lojas franqueadas focam nas capitais, na região Nordeste e no Rio Grande do Sul. Até o final de 2019, mais 49 unidades da Chiquinho devem ser abertas.

Segundo Bernardes, a cidade de São Paulo, que já tem oito unidades, é o local com maior demanda de novos franqueados. Até o final do ano, 15 novos pontos de venda serão abertos na capital e, no ano que vem, a empresa deseja inaugurar uma loja piloto própria na cidade. “Demoramos para entrar em São Paulo, tinha muita demanda para crescer no interior, que já ocupamos. Agora o foco é a capital”, afirma Bernardes.

Ambições e dificuldades
A Chiquinho projeta faturamento de 345 milhões de reais para 2019, com uma taxa de crescimento de 14% em relação ao ano passado, quando faturou 303 milhões. Em 2020, a meta da companhia é elevar o faturamento para a casa dos 400 milhões, com taxa de crescimento de cerca de 16%. Já em 2021, os planos da empresa são faturar 480 milhões de reais. Os maiores concorrentes no Brasil são as redes de fast food, que oferecem casquinhas e sundaes.

O tíquete médio do sorvete, de 12 reais, e a variedade de preços permitem que a rede atenda diferentes classes sociais e faixas etárias. O produto de entrada — a casquinha — sai por 3,50 reais, e produtos mais elaborados, como bolos de caneca, custam 14.

A expansão do mercado de sorvetes brasileiro colabora com as expectativas do grupo. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvetes, o mercado deve crescer de 3% a 5% em 2019. O país é o sexto maior produtor do mundo, mas tem baixo consumo per capita — 5,44 litros por ano, ante 20,8 litros por ano dos Estados Unidos.

A Chiquinho Sorvetes tem diversos modelos de franquia. Hoje, a maior parte das lojas da rede são de rua, especialmente porque nem toda cidade do interior tem shopping centers. A loja básica, ideal para cidades de menor porte, com menos de 50.000 habitantes, requer investimento inicial de 290.000 reais e pode faturar cerca de 45.000 reais por mês, com taxa de lucro de 20% a 25%. Já a loja tradicional, pensada para cidades maiores, exige investimento inicial de 380.000 reais, e o faturamento previsto é de aproximadamente 65.000 reais, com lucro de 20%. Há opções também para shoppings. Pelas previsões da empresa, o prazo de retorno do investimento para todos os modelos de franquia varia de 24 a 36 meses.

De 1980 para cá
A Chiquinho hoje é administrada pela holding CHQ, que cuida de todas as empresas do grupo. Em 2010, quando a rede de sorveterias decidiu migrar para o modelo de franquias, sentiu muita dificuldade de trabalhar com terceiros, pelo grande número de lojas que precisava atender. Por isso, criou as próprias empresas de desenvolvimento de software, logística, arquitetura, publicidade e comunicação.

Mas a marca foi criada muitos anos antes. A primeira unidade da sorveteria nasceu em 1980, em Frutal, em Minas Gerais. O “Chiquinho”, pai de Isaias Bernardes, era dono de um sítio na região e, preocupado com o futuro do filho, decidiu empreender. O presidente do grupo, na época, tinha 18 anos, trabalhava em um supermercado e ganhava um salário mínimo. Pelo clima quente da cidade, ele e o pai decidiram que uma sorveteria seria uma boa oportunidade. Assim, Bernardes, sem experiência de gestão, foi comandar o negócio local.

Em 1986, ele se mudou para Guaíra, no interior de São Paulo e abriu uma segunda loja. Daí, começou a expandir com filiais na região, em cidades como Barretos, Orlândia e Araraquara. Nesse período, a expansão era feita por familiares. Cunhados, concunhados e sobrinhos foram montando unidades em cidades como Catanduva, Araras, Pitangueiras, no interior de São Paulo. Até então, a Chiquinho trabalhava com sorvete de massa tradicional.
Em 2000, decidiram fazer a transição para a máquina soft, de sorvete expresso. “Foi uma aposta no nicho do soft, é difícil fazer uma logística para o Brasil todo com sorvete de massa”, explica o presidente. Em 2010, só com o crescimento familiar, a rede atingiu 80 lojas próprias. “Diferentes planos econômicos, inflação alta, sobrevivemos a tudo”.

Nos anos 2000, a Chiquinho já adotava um visual arquitetônico padronizado, então a empresa era lida já como franqueadora. “Recebíamos cerca de 20 ligações por dia perguntando sobre como abrir uma franquia nossa”, relembra Bernardes. Em 2010, a companhia montou a matriz em São José do Rio Preto, estruturou o modelo de franquias e começou a expandir pelo país.

Bernardes trocou Guaíra por São José do Rio Preto e passa os dias na empresa, que não tem uma estrutura de muitos cargos. “Os departamentos respondem direto para mim”, conta. Ocasionalmente, viaja aos Estados Unidos para ver a filha, que controla a operação norte-americana de Miami, mas diz que não pensa em se mudar para lá. “A operação do Brasil é muito grande para ficar fora”.

Fonte: Revista Exame

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

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