Noticias

Daqueles que não voltaram…

Escrever sobre a tragédia de Santa Maria passadas tantas horas e informações sobre o caso pode parecer, à primeira vista, um tanto quanto atrasado. Mas há fatos que preciso pensar, refletir e digerir muito antes de emitir alguma opinião. Esse é um deles.

Se a tragédia tivesse ocorrido há 5 ou 6 anos atrás, certamente eu não estaria tão sensibilizado como estou agora. E explico: tenho apenas 29 anos, mas hoje sou pai de uma linda menina de 4 anos e padrasto de uma linda jovem de 19 anos. Ao olhar para o fato nas terras gaúchas, olho-o não com a frieza do jornalista, mas com o coração de pai. E é esse palpitar quente e apaixonado que me faz digitar as linhas nesse momento.

Mais de 230 jovens mortos por uma irresponsabilidade. Fogo + ambiente fechado é uma matemática que não combina na minha cabeça. Falta de saídas de emergência e a insensatez de tentar receber a conta no meio de um incêndio, também não fazem parte do meu raciocínio lógico.

Mas o que fez o coração pular forte mesmo foi ler o relato da jornalista Bruna Sciera, “foca” do jornal Zero Hora, de Porto Alegre. O relato de uma testemunha ocular chama a atenção da gente, seja como profissional, seja como pai (para ler o relato completo: http://wp.clicrbs.com.br/editor/2013/01/27/daquilo-que-doi-e-deixa-saudade/).

Coloquei-me a pensar como pai de duas garotas e relembrar as várias noites em que ligamos, durante as madrugadas para a minha enteada só para saber se está tudo bem, onde está e com quem está. Sim, parece retrógrado, mas muitos pais ainda fazem isso e não os condeno. Será que eu conseguiria me imaginar do outro lado da moeda? Só de pensar na dor e aflição dos pais ao ligar para o telefone de seus filhos e não ouvir o tão esperado “alô” do outro lado, me dá uma dor no coração.

E essa sensação foi reforçada ao ler o encerramento do texto da jornalista Bruna, que relata a seguinte situação: “Um bombeiro apanhou um daqueles celulares que tremiam no chão. O aparelho registrava 104 chamadas. Na tela: MÃE”.

Difícil conter as lágrimas. Difícil conter a dor. Difícil escrever. Mas que a tragédia não seja apenas mais um relato a se perder na curta memória brasileira. Que ela sirva de lição para nós – pais e filhos – e que, nesse grande momento de comoção, saibamos respeitar o povo gaúcho mas, mais do que isso, aprendamos a amar mais a nossa família.

Para aqueles que não voltaram, que Deus ilumine suas almas. Para os que vão ficar na eterna espera do fim dessa noite interminável, que Deus os conforte.

Comments

comments

rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

%d blogueiros gostam disto: