Pesquisadores desenvolvem biodiesel a partir de bactéria e lançam crowfunding para ir aos EUA

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A partir de um desafio lançado por uma competição internacional de tecnologia, um grupo de estudantes da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP tem como missão desenvolver um novo tipo de biodiesel adaptando a bactériaEscherichia coli (E. coli). O prazo é até outubro próximo (entre os dias 27 e 31), quando o grupo levará sua inovação ao International Genetically Engineered Machines (iGEM), competição anual que acontecerá em Boston, nos EUA, organizada pela Fundação iGEM.

O professor Fernando Segato, do Departamento de Biotecnologia da Escola e coordenador do grupo, explica que os alunos ao se inscreverem na competição receberam um kitcontendo 2.086 partes biológicas (biblioteca) de DNA. “A partir daí a missão é desenvolver um microrganismo que permita a utilização da bactéria ‘E. coli’ na composição do biodiesel”, descreve.

O graduando em engenharia bioquímica da EEL André Hermann, um dos integrantes do grupo, conta que alguns estudos básicos já foram feitos com o kit. “No momento estamos selecionando as partes de interesse e realizando modificações mais simples para irmos ganhando prática”, diz. “Nosso desafio é desenvolver a formulação de um biodiesel não poluente, que não gere desgaste nos motores e que possa ser produzido a partir de materiais renováveis.”

Segundo Segato, os estudantes já têm conhecimento do que deve ser feito e, desde maio, quando efetuaram a inscrição na competição, teve início uma corrida contra o tempo. Ele explica que a modificação da E. colipara utilizá-la na formulação é necessária porque trata-se de uma bactéria sensível aos lipídeos. “A bactéria é um organismo modelo tanto do ponto de vista industrial, como genético e já é usada industrialmente em processos de fermentação e na produção de insulina e algumas vacinas recombinantes”, descreve.

O biodiesel é produzido pela transesterificação de óleos vegetais, que possuem oxigênio na sua composição e que gera o desgaste nos motores. Segato explica que a concentração dos lipídios no meio interfere na estabilidade da membrana da E. coli, causando uma reação chamada peroxidação lipídica. “Isso impede o aumento da produção do biodiesel, já que encurta a vida útil da bactéria”, diz o docente.

Uma das possibilidades é inserir na membrana, moléculas de tocoferol, um poderoso antioxidante que deixa a membrana da célula da E.coli mais resistente. “É justamente nisso que trabalharemos”, conta Hermann, lembrando que talvez não possam ainda atingir a produção desejada, “mas certamente obteremos uma formulação ideal do biocombustível.”

A competição em biologia sintética teve sua primeira edição em 2003, no Massachussets Institute of Tecnology (MIT). “A partir de 2012, a competição tornou-se independente do MIT”, como informa Hermann. Pela primeira vez uma equipe da EEL participará da competição. “Além de nós, um time do campus da USP em São Paulo em conjunto com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e outro de Universidade Federal do Amazonas (Ufam), participam da competição, mas estudando outras bactérias e microrganismos”, informa o estudante.

Segundo Hermann, desde 2012 a USP participa do evento, tendo sido representada por equipes do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e Instituto de Física de São Carlos (IFSC). Há dois anos, o estudante fundou o Clube de Biologia Sintética da EEL, com o objetivo de participar da competição. Hoje, o clube agrega 30 estudantes, sendo que 15 deles estão empenhados nas pesquisas para o novo biodiesel.

A Fundação iGEM é a organizadora da competição estudantil em Biologia que incentiva pesquisas para a modificação de microrganismos para a resolução de problemas da sociedade em diversas áreas, como poluição e desenvolvimento de medicamentos, entre outros.

O grupo da EEL busca agora recursos para custear a viagem aos EUA. Leia mais sobre a campanha de financiamento coletivo na reportagem.

Ajuda

Apesar da importante descoberta, o grupo de pesquisadores está precisando de R$8 mil para ir a Boston apresentar o projeto e os resultados da pesquisa. O valor será utilizado para enviar dois pesquisadores aos EUA, sendo que os jovens não pretendem ficar com nenhum centavo das contribuições. Para isso eles lançaram uma campanha de “crowfundig” onde pessoas podem colaborar com eles. Da meta inicial eles já conseguiram arrecadar R$3,1 mil, porém, a meta esgota-se em exatos 40 dias (7/7/2016). As doações podem ser feitas pela internet em valores variados. Para conhecer a fundo o projeto e a proposta de pedido de ajuda coletiva, acesse: https://benfeitoria.com/uspeelbrazil. Vamos ajudar!

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação

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